Viagem a Floresta da Transcendência

Pintura surrealista de Christian Schloe (Áustria)
Acordo à noite repentinamente
Do meu sono inconsistente.
Dormia deitada na mata.
Me questiono como vim parar aqui inconformada.

Levanto vagarosamente
Com uma dor de cabeça insistente.
Em busca de respostas, caminho à deriva
Na floresta silenciosa numa tremenda agonia.

Agonia de não querer ser quem sou
e por não saber para onde vou.
Agonia por não querer entender o que me assombra
E por não querer encontrar a minha sombra.

Me isolo do mundo numa floresta
Escura, silenciosa e deserta
Porque temo meus bloqueios desvendar
e com um sorriso eu continuo a atuar.

O que me motiva a seguir em frente
Está perdido em algum lugar secretamente
Que me impede de me revisar, me mudar,
Me singularizar, me integrar, me despertar...

Entre árvores e riachos,
sem perceber eu caio de um penhasco,
Me afastando da minha natureza
Por não me sentir suficiente para a forte correnteza.
Querer não ser quem sou
É querer estar presa na correnteza onde estou.
Por isso, consciente procuro deixar o rio fluir
para entender qual é o caminho que preciso seguir.

Me despido de qualquer preconceito, anseio e medo...
Me revitalizo com a magia da floresta a qual me rendo
e vejo o quanto pode ser acolhedora se a permitir assim que seja
deixando a natureza aflorar em mim tão livre e tão intensa!

O desabrochar da minha totalidade
Propicia maior consciência da realidade
E maior percepção do mapa da floresta
Sabendo onde devo ir para sair daqui na direção certa.

O autoconhecimento à minha natureza me conecta
e à minha essência integra.
Por isso, sinto uma bela árvore em mim a me fortalecer 
com folhas, flores e galhos pelo amor a me envolver.

Sou o tronco de uma árvore esbelta
Que desabrochou na floresta.
Do meu eu tão equilibrado, realizado e integrado
partem galhos e folhas para todo o lado.

O Sol surge abraçando a floresta
enquanto sinto o meu potencial que se manifesta
ao conseguir encontrar o meu lugar
e, no meu tempo, conseguir me autorrealizar.

Minha alma enxerga um rumo,
um lugar dela no mundo
Em que mais madura, íntegra e distinta
Sabe quem é e o que quer dessa vida.

As folhas me cobrem totalmente!
Se preenche de serenidade toda a minha alma e mente,
Pois assim com mais coerência me compreendo
Com uma natureza a ser aceita e aprimorada ao longo do tempo.

Em seguida, a floresta sumiu repentinamente, e com meu quarto eu me deparei!
Entendi o que houve, pois de um sonho eu acordei!
Deslumbrada, por horas e horas, no significado eu pensei
da Floresta da Transcendência na qual, num insano sonho, eu viajei...

Referências: 
1) Me inspirei primeiramente na harmonia de suspense do brilhante texto "Pesadelos e paisagens noturnas" de um grande amigo meu do site recanto das letras Jean Michel Araújo. Recomendo lerem, gente! Como fazia tempo que tinha lido o poema dele (13/12/2018), quando eu fiz esse poema (21/02/2019), me esqueci que ele também fez envolvendo sonho. Desculpe se ficou muito parecido nesse aspecto, mas tentei colocar a minha cara sobretudo porque adorei a ideia de ficar perdido na floresta e com o desenrolar do poema a floresta invadir a própria pessoa.
Link do texto de Jean: https://www.recantodasletras.com.br/contosdefantasia/6525699
2) Poesia inspirada na pintura acima do Christian Schloe. A pintura que me fez pensar nessa natureza intrínseca de cada um.
Link: http://www.julianarabelo.com/o-doce-surrealismo-de-christian-chloe/
3) Poesia inspirada especialmente na teoria do brilhante Jung sobre Self ou Si-mesmo e a individuação. Depois, eu estudei para entender melhor o sentido que eu daria para a natureza no poema.
Decidi que a natureza é o self, como Jung o entende. A natureza é o self que deve ser aprimorado com o tempo para o ser humano evoluir. O self envolve questões conscientes e inconscientes, ou seja, totalizantes da nossa individualidade. Devemos ter uma meta na nossa vida e ir atrás dela e assim, nos autorrealizaremos. O autoconhecimento é um processo de desenvolvimento pessoal em que o indivíduo isolado consegue um despertar de consciencia, de percepção e de entendimento do que quer para a sua vida para que em seguida possa desabrochar e conviver melhor com as pessoas. O autoconhecimento é essencial para a individuação do indivíduo. Precisamos entrar em contato com o nosso lado obscuro (medos, preconceitos, anseios, traumas, bloqueios) para que a gente possa nos integrar, nos melhorar e nos aprimorar cada vez mais e assim, chegar na individuação.
A poesia foi inspirada a partir da junção desses três aspectos explicados acima: Texto de jean, pintura de christian e teoria de Jung.
Link dos artigos que estudei de Jung:
https://psicoterapiajunguiana.com/conceitos/selfsi-mesmo-ego-eixo-ego-self/
https://paulorogeriodamotta.com.br/self-dicionario-junguiano/
https://www.somostodosum.com.br/artigos/espiritualidade/individuacao-um-desafio-para-o-ego-3026.html
https://psicoterapiajunguiana.com/conceitos/processo-de-individuacao/

Comentários

Unknown disse…
Sua poesia ficou maravilhosa, como tudo que você escreve. Você tem um dom imenso aliado a uma inteligência criativa que te faz ainda melhor. É sempre um prazer te ler e fiquei muito honrado que meu conto tenha servido de inspiração para essa sua linda construção. Muito obrigado. Um beijão. Um abraço repleto de paz pra você.
Bellatrix disse…
Muito obrigada pelo comentário,visita, tempo de vir aqui, simpatia e amizade de sempre... adorei seu texto. De fato, é muito inspirador e brilhante!! Um abraço repleto de paz a você