Verme Enfermo


Num dia qualquer desses, 
eu acordei
me sentindo estranho
como se fosse diferente
e como se não fosse mais aquela criança
Só com olhar de esperança. 

Acordei num dia desses
sem braços nem pernas
sem crânio nem bunda
sem tronco nem bacia
sem língua nem orelhas
sem pulmão nem coração...

Num dia desses, 
tornei-me pequeno, 
apequenei-me na minha dor;
tornei-me um verme, 
Renunciei-me de ser pessoa;
tornei-me desumano, 
rejeitei-me de ser quem sou. 

Tornei-me um verme 
Despersonalizei-me
Desumanizei-me
Sem sentimentos,
sem vontades,
Sem desejos,
Sem medos,
Desfiz-me. 

Num outro dia daqueles, 
a pessoa acordou. 
Refiz-me!
Personalizei-me.
Tornei-me grande.
Engrandeci-me. 
Exaltei-me.
Pareceu que existi
ainda rejeitando-me. 

Num dia daqueles,
Chorei
e gritei,
Mas ainda assim, tinha esperança 
de que a criança
ainda existia
porque minhas emoções
embora descontroladas eu sentia...
Parecia que vivia 
ou que sobrevivia...

E ia assim... 
Num ciclo interminável, 
Num dia, verme
Que não respira.
Noutro dia, pessoa
que chora e grita, 
Via natural
como de um habitual 
animal
sobrenatural,
especial,
surreal
de sobreviver entre o
Desfazer-se
E o refazer-se.

E nesse ciclo de dias 
desses e daqueles
intermináveis, 
insuportáveis, 
indecifráveis, 
bipolares,
lunares, 
solares, 
eu não sabia mais 
quem eu era...


Documento do poema:
Eu tive várias inspirações para fazer esse poema:
1. Esse poema é uma segunda versão do poema "Palavra Secreta". Também me inspirei na palavra "Refazer-se" e no texto que se encontra no documento dessa poesia. Ou até mesmo acredito até que o poema "Palavra Secreta" que vai vir depois dessa postagem é uma sequencia desse poema "Verme" acima. Acredito que os dois poemas tenham uma grande relação ótima de ler um atrás do outro.

2. Acredito que, mesmo não tendo sido a intenção, eu me inspirei um pouco na obra de Kafka em que ele se transforma num besouro... Sinto uma atmosfera semelhante, apesar de ter muitas diferenças.

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