Revolta da Pequena - Diário #1

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Agora que eu sei o que é estar apaixonada, eu não sei exatamente o motivo de sonhar tanto com você sem ser nem ao menos convidado. São sonhos como se estivesse vivendo um primeiro amor colegial em que não vivenciei, mas poderia ter vivenciado talvez com você.

Não me parece ser por isso que esses sonhos apareçam. ´E o que eles me levam a acreditar. A verdade mais pura é a raiva que me fez sentir por desconfiar de que havia me pedido em namoro de brincadeira no pré para provocar uma amiga minha em que estivesse gostando mais e o estivesse ignorando e insultando porque ela o achava "gordo".

Sim, fiquei revoltada tão pequena me sentindo rejeitada sem nem ter consciência. Você me pediu em namoro um dia antes das férias e depois esqueceu. Nem pensava nessas coisas antes, você me pediu, me deixou ansiosa nas férias, e desapareceu como se tivesse pensado que conseguiu tão facilmente que nem se importou mais.  Me lembro que fiquei aborrecida, mas me lembro que tentei não dar tanta importância porque eu, querendo brincar mais nessa época e sendo criança, parecia que realmente não podia haver importância, mas a verdade é que querer nos sentir amados de verdade é algo que independe da idade. 

Cheguei a até me diagnosticar com Fobia Social porque minhas emoções eram totalmente bloqueadas nessa época, sentia um aperto no peito, um grande medo do julgamento alheio e bem sensível à críticas. Eu valorizava mais as percepções dos outros em detrimento das minhas. E quando me sentia de determinada forma, era um "a" alheio para não expor para pessoas que não aceitariam ouvir realmente a minha vulnerabilidade porque eles mesmos não se ouviam. Se ouviam, falavam julgando e interpretando de um modo que me anulavam como pessoa e eu escolhi continuar assim porque não sabia como sair, embora estivesse tentando sair sondando o que sentisse e fazendo algo a respeito para começar o ensino médio de cara limpa em outro colégio.

Por outro lado, emocionalmente falando e não moralmente ou diagnosticamente ou intelectualmente, eu me senti bem triste, trocada, irritada, enciumada e magoada tanta que sem me dar conta exatamente do motivo, pela raiva escrevi (estando no 5 ano A) na lousa que era uma bosta as pessoas do 5 ano B porque por certas coisas que faziam e me diziam, eu acabava me sentindo assim inferior como você em que tentei de todas as formas esquecer, mas tão nova acabei mostrando minha revolta dessa forma trágica na lousa. 

Uma menina inimiga e uma menina do 5 ano B viram, uma contou para você, fiquei constrangida (por quê pareceu se importar agora?) e contou para várias pessoas (não sei bem quantas) no 5 ano B que passaram a me xingar pelas costas dizendo que era uma "vadia".... Eu era uma menina que era muito sensível às críticas e esse tipo de situação mexeu muito comigo em 9 anos que estava estudando nessa escola sem sentir que as pessoas gostavam de mim, devido ao que escrevi na lousa, sem nenhum motivo lógico aparente nem por elas nem por mim conscientemente. 

Mas por dentro, acredito que estava me doendo muito pela falta da minha necessidade de amor genuíno. Me isolei, me fechei, me rotulei pois me rotulavam de "burra" porque a cada dia era um constrangimento diferente ou até uma desatenção por não estar me sentindo nada confortável de estar ali muito menos para aprender tranquilamente e me ser tímida" (menos alguns amigos que realmente me conheciam), mas eu nunca comprei esse rótulo para mim. 

Tímida nunca me definiu. ´E um insulto! ´E uma afronta me reduzirem a isso depois de toda essa mágoa que me consumia e não conseguia elaborar e lidar, tão pequena, mas estava procurando elaborar para me soltar mais com eles, com minha família e comigo mesmo. Agora, eu posso me defender e me defenderei das humilhações, comparações, insultos, constrangimentos, exclusões, fofocas, subestimações que aconteciam discretamente e veladamente naquela classe 5 ano B que eu detestava estar, mas sem assumir para mim mesma, eu me vi ficando só pelas duas amigas do peito na época que estavam comigo e ainda estão. 

Foi uma escolha minha permanecer nessa escola pelas minhas amigas de verdade e também estava disposta a pedir perdão novamente para ver se conseguia me sentir melhor na classe e mostrar que estava arrependida com a forma com a qual me expressei (verdade), o que realmente ajudou MUITO, mas o meu lado da história nunca revelei e nunca também foi reconhecido por ninguém daquela classe a não ser minhas duas amigas do peito (verdade). 

Como me sentia com algumas situações de bullying por se sentirem superiores a alguém mais "tímido" que não tem nenhum fundamento ser, eu cedia, continuava quieta, por dentro me doía e me indignava, mas deixei assim por acharem que estavam moralmente certos, mesmo que emocionalmente não conseguisse me definir assim por não querer desvalidar todas as diversas emoções que passei todo santo dia e que se arrastaram por todos os nove anos de escola no ensino fundamental.

Por isso, de uma vez por todas, peço para mim ao meu passado, eu não quero mais sonhar com ninguém dessa escola ainda mais se tratando desse menino que nunca atrevi a dizer para ele o quanto me enfureceu e me magoou já que éramos tão crianças e já passou consideravelmente muito tempo. 

Eu estou no presente adulta, trabalhando, atendendo, namorando alguém que realmente amo, me aceita e que também sonho, às vezes, mas quero sonhar mais e/ou só com ele.Quero olhar para o presente e o futuro. O meu passado, embora eu o respeite e procure aceitá-lo como foi, em que não me dei ao luxo por me ver muito insegura para ter um namorado por essa impressão negativa que vinha carregada da linguagem e das atitudes politicamente corretas do meu pai, meu irmão, desse menino e dos meninos mais extrovertidos do 5 ano B que eu sentia que não me aceitavam como pessoa e não queriam buscar me conhecer mais  (e eu da mesma forma).

Se sentiam algum interesse por mim, foi passageiro. Não foi como meu namorado que é forte o bastante para permanecer. Quero poder sonhar mais com meu namorado o beijando, o abraçando, conversando mais e imaginando nosso presente e futuro e deixando meu passado como foi para trás.

Ou pelo fato dos meus sonhos serem como filmes do que poderia ter sido, então, eu os vivenciarei como aparecerem, pelo respeito ao meu passado, do jeito que imaginar livremente sem me condenar pelo que passou e por saberem quem realmente quero para minha vida, por respeito ao meu presente e meu futuro, me dando a permissão de sentir essa raiva de que eu queria, NAQUELA ´EPOCA, que você tivesse sido um "homem melhor"- como diria a Taylor Swift. 

 


Documento do texto:

Biográfico.

Diário. 

Real

Sentimental

Pessoal - Terapêutico -´INTIMO

Reflexivo

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