Viviane
No banho, eu passo as mãos no meu cabelo longo,
ele fica bem liso, graças a um creme condicionador feito de babosa.
Só que meu pensamento voa longe...
`As vezes, me pego lembrando do cabelo liso e longo de Viviane,
uma vizinha que morava na minha rua, quando eu tinha meus 14 anos.
Eu não sei por que ela se foi...
Suspiro...
Tento entender...
Ela era tão bonita, tão bonita...
Os quadris em formato violão.
O formato dos olhos era lindo... Oh Meu Deus...
Talvez ficaria com ela fácil kkk
´E triste dar conta de uma dor engasgada há anos,
pois me vi sendo diferente dela numa hora
e simplesmente, não percebi que poderíamos ser amigas, mesmo assim.
Eu queria que tivesse voltado naquela época para lhe dar um último abraço.
Tentaria escutar o desejo dela de partir, embora não conseguisse lidar bem com sua falta.
Será que teríamos ido em algumas matinês juntas?
Ela adorava dançar na frente dos meninos da rua junto com as outras meninas.
Eu simplesmente parei no meio da dança morrendo de vergonha kkk
Ela me olhou com um olhar irritado, decepcionado, inconformado...
Puxa, foi a última vez que a vi antes dela querer partir.
Ela era a mais linda.
Quando eu soube, me lembro do choque que foi:
Como uma menina tão linda quisesse partir...
A beleza não deve ser tudo para viver nesse mundo...
Oh Meu Deus...
Quando lembro dessa história, o choque volta ao perceber isso tão nitidamente.
Eu sei que isso parece óbvio, mas naquela época, foi uma baita surpresa pra mim.
Eu passo a mão no cabelo liso no banho e me lembro de seu cabelo.
Que paranoia minha... Mas é a verdade.
Eu sempre fui esquisita... não dizia que era tímida, mas passei por umas violências,
que me fazia ter dificuldade de me expor e de confiar.
Hoje eu teria dançado até o chão funk com ela ou até uma Beyoncé...
Eu amo dançar. Eu adoraria dançar com ela, pela dança, pela vida, pela alegria, pela diversão, pela amizade por um fio...
Não chegamos a ser amigas oficialmente. Mas eu a tenho comigo, ela me marcou tanto que precisava escrever em sua homenagem.
Ela realmente era a menina mais linda da minha rua...
E graças a esse sentimento que me percorre e dádiva de podermos mudar, além da imaginação e da minha fé espiritualista,
queria fazer uma pergunta a ela
se ela aceita ser minha amiga, mesmo ela não estando mais aqui,
e que ela estava livre, mesmo sendo a menina mais linda da rua, a decidir partir desse mundo.
E que não a julgo, hoje em dia, diria: "eu só queria poder dançar com você,
mas não poderemos mais..."
As lágrimas escorrem pelo meu rosto. Deixo toda a dor aqui nesse poema com o nome dela.
Nunca imaginaria que a menina mais linda da minha rua estaria sofrendo como eu, naquela época...
Poderíamos ter nos ajudado e não deixado nossas diferenças nos afastar...
Sei que é estranho, mas preciso escutar minha dor estando envolvida com ela...
A indiferença durante todos esses anos não me levaram a nada.
Quero poder lhe dizer adeus
e assim, sentir o meu cabelo alisado pela babosa
compenetrada em meu cabelo, meu corpo, minha vida...
E é por isso, que essa prosa poética existe para me ajudar a ensimesmar-me em mim mesma
e assim, deixar os cabelos de Viviane com ela.
Os meus cabelos também são lindos enrolados como naturalmente são.
Os meus cabelos não precisam ser lisos.
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