O Trem da Loucura


Chegou o trem da loucura
para abastecer o hospital da cura
da anormalidade que assusta a cidade
e que quer se ver longe dessa demoniedade.

Um por um desce do trem
Pensando que vão ter uma saúde do bem,
Mas só como doentes são vistos e punidos
Por não serem pela sociedade bem compreendidos.

A raiva ou a tristeza era justificada pela existência
de algum transtorno ignorando a social violência
que eram tratados dia após dia
de quem desconhecia a empatia.

Negros, alcoólatras, necessitados,
Putas, gays, aleijados,
Desciam do trem para o manicômio
Como num holocausto mórbido.

Categorizá-los por doentes mentais
Pelo que seriam cidadãos "anormais"
Foi tão perigoso e preconceituoso em vários níveis
justificando tratamentos nos primeiros hospícios bem insensíveis...

Lobotomia ou solitárias para quem não obedecer,
Dopa ou castigos físicos para quem se enfurecer
Já que deviam aceitar serem um zumbi
que não tem roupa, não come, não sente nem sorri.

Pela superlotação, as pessoas dormiam em cima das outras
Em que muitas morriam pisoteadas como trouchas
e os defuntos eram vendidos por lucro
às universidades de medicina pelo mundo.

O precário tratamento
sem considerar a subjetividade do sujeito
Provocou tanto sofrimento
E tantas vítimas mortas de todo o jeito.

O trem da loucura levou muita gente
Que assim que embarcava se tornava um indigente doente
De um holocausto que não tinha mais como sair
A não ser como morto já que a "anormalidade" só tinha valor assim...

Agora com a pandemia (e etc), ainda há os privilégios da hierarquia
quando vemos os ricos trabalhando em suas moradias
e os pobres mais afetados ao serem obrigados a saírem para trabalhar,
me questiono se esse trem da loucura não parou de circular...

Referência: A intenção do poema é divulgar o acontecido no Hospital Colônia de Minas Gerais e o livro de extrema importância de Daniela Arbex chamado "Holocausto Brasileiro" que denuncia essa realidade bem desconhecida para muita gente. Fiz a poesia com o livro do lado. Para saber mais: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-manicomio-barbacena-holocausto-brasileiro-matou-60-mil-nise-silveira.phtml

Segunda versáo mais reduzida da poesia original minha chamada `Holocausto dos pacientes indigentes

Comentários

Sacha moser disse…
Que texto sensível que belo poema! Parabéns Bih!